sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A BRIGA NA PROCISSÃO - Chico Pedrosa

Enquanto os Rodrigues não comentam os posts, entendo que estão gostando das poesias matutas, já que cala, não diz nada! rsrsrs! Segue mais uma e vamos movimentando nosso blog! Abraços,

A BRIGA NA PROCISSÃO - Chico Pedrosa

Quando Palmeira das Antas,
Pertencia ao capitão “Justino Bento da Cruz”.
Nunca faltou diversão,
Vaquejada, cantoria, procissão e romaria.
Sexta-feira da paixão.

Na quinta-feira maior, no salão paroquial
Dona Maria das Dores reunia os moradores
Logo após uma pré-seleção ao lado do capitão.
Escalava-se a seleção de atrizes e atores.

O papel de cada um o capitão escolhia.
A roupa e a maquiagem eram com dona Maria.
O resto era discutido, aprovado e resolvido
Na sala da sacristia.

Todo ano tinha um Jesus, um Caifaz e um Pilatus.
Só não mudavam a cruz, o verdugo e os maus tratos.
O Jesus daquele ano, foi o Quincas beija-flor
Caifaz foi o Cipriano, Pilatus foi o Nicanor.

Duas cordas paralelas, separavam
A multidão, para que pudessem entre elas
Caminhar a procissão.
Cristo conduzindo a cruz, foi não foi advertia
Ao centurião perverso que com força lhe batia.
Era pra bater maneiro mas ele não entendia,
Devido ao grande pifão que bebeu naquele dia
Do vinho que o capelão guardava na sacristia.

Cristo dizia: - ô rapaz, vê se bate devagar,
Já to todo encalombado assim não vou agüentar.
Ta com a gota pra doer, ô tu para de bater,
Ô a gente vai brigar, jogo já essa cruz fora,
To ficando revoltado, vou morrer antes da hora
De ficar crucificado.

O pior era que o malvado fingia que não ouvia,
Além de bater com força ainda se divertia,
Espiava pra Jesus, fazia pouco e dizia:
-Que cristo frouxo é você que chora na procissão?
Jesus pelo que se sabe num era mole assim não!
Eu to batendo com pena, tu vai ver o que é bom
Na subida da ladeira da venda de Finelon,
O couro vai ser dobrado, daqui até o mercado
A cuíca muda o som!

Naquele momento, ouviu-se um grito da multidão.
Era Quincas que com raiva sacudiu a cruz no chão,
E partiu feito maluco pra cima de Bastião.
Se travaram no tabefe ponta pé e cabeçada...
Madalena levou queda, Pilatus levou pancada,
Deram um bufete em caifaz que até hoje não faz
Nem sente gosto de nada.

Desmancharam a procissão, o cacete foi pesado,
São Tomé levou um tranco que ficou desacordado,
Acertaram um cocorote na careca de Timote
Que até hoje é aluado.

Até mesmo São José, que não é de confusão,
Na ânsia de defender o filho de criação,
Aproveitou a garapa pra dar um monte de tapa
Na cara do bom ladrão.

A briga só terminou quando o doutor delegado,
Interviu e separou cada santo pro seu lado.
Desde que o mundo se fez, essa foi a primeira vez
Que cristo foi pro xadrez mas não foi crucificado.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

AGRURAS DA LATA D'ÁGUA!

Mais uma poesia matuta! Dessa vez de Jessier Quirino, um poeta paraibano.

AGRURAS DA LATA D'ÁGUA

...E eu que fui enjeitada

Só porque era furada.

Me botaram um pau na boca,

Sabão grudaram no furo,

Me obrigaram a levar água

Muitas vezes pendurada,

Muitas vezes num jumento.

Era aquele sofrimento,

As juntas enferrujadas.

Fiquei com o fundo comido.

Quando pensei que tivesse

Minha batalha cumprido,

Um remendo me fizeram:
Tome madeira no fundo

E tome água e leva água,

E tome água e leva água.

Daí nasceu minha mágua:

O pau da boca caía,

Os beiços não resistiam.

Me fizeram um troca-troca:

Lá vem o fundo pra boca,

Lá vai o pau para o fundo.

Que trocado mais sem graça

Na frente de todo mundo.

E tome água e leva água

E tome água e leva água.
Já quase toda enfadada,

Provei lavagem de porco,

Ai mexeram de novo:

Botaram o pau na beirada.

E assim desconchavada,

Medi areia e cimento,

Carreguei muito concreto

Molhado duro e friento,

Sofri de peitos aberto,

Levei baque dei peitada.

Me amassaram as beiradas,

Cortaram minhas entranhas.

Lá fui eu assar castanha,

Fui por fim escancarada.

Servi de cocho de porco

Servi também de latada.

Se a coisa não complica,

Talvez eu seja uma bica

Pela próxima invernada.

E inverno é chuva, é água,

E eu encherei outras latas

Cumprindo minha jornada.